segunda-feira, 21 de abril de 2014

Hoje eu quero voltar sozinho

Sob o incansável mote de que "cinema também é indústria e precisa vender", comédias românticas de quinta categoria, porém bastante comerciais, têm predominado entre as produções cinematográficas brasileiras ultimamente, como se boa qualidade artística e potencial de sucesso de bilheteria fossem necessariamente antagônicos. Prova de que não são é o novo filme de Daniel Ribeiro,  Hoje eu quero voltar sozinho, um alento de orgulho aos entusiastas do cinema canarinho. Vencedor do Prêmio de crítica no Festival de Berlim, o longa é esteticamente cuidadoso e bem dirigido, abordando de maneira suave anseios e descobertas típicas da adolescência, como sexualidade, primeiro amor e independência dos pais.


Graças à opção de uma estética do afeto (como em Azul é a cor mais quente, de Abdellatif Kechiche), o tema da diferença, seja pela deficiência visual ou pela homossexualidade, ficam "palatáveis" ao público mais obtuso – trunfos de direção e roteiro, com mistura de ingredientes na medida certa, fazem renovar a esperança de que o cinema brasileiro siga um caminho mais interessante daqui para frente. Essa esperança, aliás, já havia sido retomada no ano passado, com O Som ao Redor, de Kleber Mendonça.

sexta-feira, 18 de abril de 2014

Pílula concepcional do dia


Todas as sociedades criaram roupas diferentes para os homens e para as mulheres. Isso não está certo; porque todo homem é também uma mulher. Ele veio de duas fontes: o pai e a mãe. Ambos contribuíram para seu ser. E toda mulher é também um homem. Nós destruímos ambos, ou melhor, ambos se tornaram metades. Esse é um dos maiores problemas que temos que resolver – pelo menos para nosso povo.

(Osho)

segunda-feira, 7 de abril de 2014

Retificação da pesquisa do IPEA

Mesmo com retificação de pesquisa do IPEA sobre violência contra mulheres, Brasil ainda é machista

  
IPEA
 
Movimentos como #NãoMereçoSerEstuprada e #NinguémMerece são mais do que bem-vindos como uma demonstração de repulsa a tal visão arcaica e opressora da sociedade, diz representante da ONU Mulheres no Brasil.
 
Por Nadine Gasman (*)
 
A pesquisa sobre Tolerância Social à Violência contra as Mulheres apresentada pelo IPEA no dia 27 de março – e retificada no dia 4 de abril – provocou surpresa e indignação na imprensa, nas redes sociais e nos movimentos de mulheres.
Os números aparentemente contraditórios revelam o retrato de um país que ainda subordina todas as mulheres ao poder dos homens e cultua a preservação da família patriarcal heteronormativa tradicional.
É possível perceber que a mídia e os esforços concretos dos governos em difundir informações sobre a Lei Maria da Penha e o conceito de violência doméstica, bem como a existência de uma Rede de Atendimento especializada em casos de violência contra as mulheres tem surtido efeitos e, apesar de não haver dados comparativos de períodos anteriores, podemos supor que as pessoas têm adquirido mais consciência sobre a gravidade, em especial, da violência física e a necessidade de punição aos agressores. Isso tem atualizado, em parte, o conceito de família.
Espera-se a supremacia dos homens dentro de casa, e ainda é forte o imaginário em relação ao sonho das mulheres de se casarem e se realizarem completamente por meio da maternidade. A instituição família deve estar acima das brigas e conflitos dos casais – e que ninguém se meta nisso. No entanto, dado que o casamento nos moldes patriarcais já constitui, em si, uma forma de subordinação e controle das mulheres, nem toda violência contra elas deve ser tolerada.
As pessoas se mostram desfavoráveis a gritos, xingamentos, destruição de bens e, claro, a falar mal de uma mulher para outras pessoas. Em casos de violência física, a sociedade apoia o divórcio e a prisão dos agressores. No entanto, para 65% da população, se a mulher agredida continua com o parceiro, é porque ela gosta de apanhar.
Isso nos leva a, pelo menos, três reflexões. Quantos ciclos de violência são socialmente aceitos no ambiente doméstico até que se chegue a uma violação mais grave dos direitos das mulheres? Dados os números alarmantes de ocorrências de violência doméstica e de feminicídio praticado por parceiros de mulheres no país, e números ainda maiores de casos não denunciados, o quanto o discurso de que “homem que bate na esposa tem que ir para a cadeia”, com o qual 91% dos respondentes da pesquisa concordam, se transforma, de fato, em prática? E nos casos de violência em que a mulher não se separa do agressor, ela não apenas se transforma em responsável pela agressão sofrida, como perde a possibilidade de contar com qualquer tipo de ajuda.
Enquanto a percepção da masculinidade vem se atualizando no imaginário popular – os homens não têm, necessariamente, uma natureza violenta, e não devem agredir suas esposas, ainda que tenham crescido em famílias violentas – infelizmente, não podemos dizer o mesmo em relação à percepção sobre a liberdade das mulheres. Especialmente quando essa liberdade se refere ao próprio corpo, objeto de constante vigilância moral e social.
No país em que 55% da população acredita que há mulheres e mulheres, as que são pra casar e as que são feitas somente para o sexo, estas últimas, não controláveis pela instituição do matrimônio, devem ser subordinadas à força, com violência e, se necessário, através do estupro.
E a culpa dos altos índices de violência sexual, segundo quase 60% das pessoas entrevistadas, é das mulheres, que, insubordinadas, não se comportam de forma “adequada” para uma “mulher de respeito” ou, mais precisamente, para 26% das pessoas, pelo uso de roupas que mostram o próprio corpo.
Movimentos como #NãoMereçoSerEstuprada #NinguémMerece são mais do que bem-vindos como uma demonstração de repulsa a tal visão arcaica e opressora da sociedade em relação a todas as mulheres, como uma reafirmação de nossas liberdades individuais irrestritas, e como um estímulo ao debate e à reflexão para uma transformação efetiva e urgente dos paradigmas sociais e dos estereótipos de gênero.
De acordo com a pesquisa, entre a população entrevistada, as visões mais igualitárias e de respeito à liberdade e à diversidade vieram dos jovens e das pessoas com nível mais alto de escolaridade. Nesse sentido, ressalto a importância de o Brasil investir fortemente na ampliação e na qualidade da educação de crianças, jovens e adultos, e de incluir as temáticas de gênero em todos os currículos escolares. Quero crer que a percepção da juventude seja resultado dos esforços empreendidos por tantos atores dos governos, da sociedade civil e dos mecanismos internacionais em prol da garantia dos direitos das mulheres e que demonstre que o país tende a evoluir na maneira como enxerga e trata as brasileiras.
Mulheres são pessoas livres e iguais em dignidade e em direitos, donas de seus corpos e de suas expressões e merecem respeito, em toda e qualquer condição. Ao ser signatário de acordos internacionais como a Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra as Mulheres (CEDAW), a Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher e a Plataforma de Ação de Pequim, o Brasil tem como compromisso trabalhar para que a igualdade de gênero e o empoderamento das mulheres se manifeste em números e na prática.
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(*) Nadine Gasman é representante do Escritório da ONU Mulheres no Brasil. Acesse www.onumulheres.org.br

sábado, 5 de abril de 2014

Um (ainda) ponto cego chamado comunicação

Às vezes, o mais óbvio parece mais difícil de enxergar. Quando Luís Felipe Miguel, professor de Ciência Política da UnB, aponta que a comunicação social é um "ponto cego" nas teorias democráticas, está coberto de razão. Embora tão óbvio, é ponto cego não apenas nas teorias democráticas, mas, de modo geral, as pessoas ainda não se dão conta da importância da comunicação na política. É costume traçar linhas divisórias entre diversos campos – política, comunicação, economia, ciência, arte etc. – mas a verdade é que, sem medo de afirmar, a política está em tudo e a comunicação é o meio pelo qual ela se manifesta. Comunicação não é apenas um texto, uma notícia, uma campanha publicitária, mas absolutamente tudo o que envolve a mobilização, mais ou menos bem sucedida, de uma mensagem de um emissor a um receptor. Com isso, o simples fato de como uma pessoa ou uma organização é percebida indica a realização de um processo de comunicação. A orientação desse processo pode ser consciente (estratégica) ou não, mas comunicação houve, seja lá de que jeito. 

Por aqui, a consciência da emissão continua firme e por isso compartilho o que hoje, agradavelmente, chegou a mim sobre o tema "Mídia e debate público: os meios de comunicação contribuem de fato para a democratização? A regulamentação dos meios ajuda nesse processo?". No suplemento sobreCultura da revista Ciência Hoje, vale a pena ler: